CÁSSIA ELLER
DIREÇÃO: Paulo Henrique Fontenelle
ELENCO: Cássia Eller, Nando Reis e Zélia Duncan
Com depoimentos de familiares e amigos, como Nando Reis e
Zélia Duncan, esse documentário narra a trajetória artística de Cássia Eller,
expondo como surgiu esse fenômeno do rock nacional, que impressionou o país em efêmeros
doze anos. A vida pessoal da artista também não ficou de fora nessa produção.
Bancar o radical não é o meu objetivo, mas confesso ser
contra cinebiografias ou documentários (esse segundo em menor grau) sobre pessoas
que ainda estejam em vida ou que sua morte ainda tenha sido recente. Visões
pessoais sobre o indivíduo podem pesar na avaliação da obra. Nesse tipo de
trabalho o Brasil é um verdadeiro mestre. Porém se tratando de Cássia Eller, vejo que tal homenagem veio de maneira 100% tardia.
Trabalhar a vida de Cássia Eller é prato cheio para quem gosta de
se surpreender e levá-la as telonas faz qualquer um pensar que um resultado
negativo seria improvável. Quem pensa assim, está coberto de razão. Muitos
alcançam a glória, mas, no caso desta artista, quem poderia imaginar que
alguém, numa performance monstruosa e impecável no mais alto grau do rock,
teria começado a carreira em uma banda de forró e ao longo da fama fez com
Alcione um ótimo dueto de Não Deixe o Samba Morrer, fora o fato de ter subido no trio
elétrico de Margareth Menezes, em pleno Carnaval de Salvador, e ainda ter
tocado pandeiro.
Cássia foi de um brilhantismo tremendo ao dar uma
personalidade incrível na calmaria de canções compostas por ícones do rock
nacional, como Renato Russo, Cazuza, Frejat e Dado Vilalobos; e ainda buscar o
trabalho acústico como maneira de satisfação pessoal. Logo, não vinha ao caso
os gostos pessoais, adentrar a territórios estranhos ao rock, como o último
citado, o axé e o samba é enaltecer a arte que se respira, é a música que deve
ser valorizada, já que era aquilo que a fascinava, como pode ser visto no
documentário, que expõe claramente suas dificuldades em lidar com entrevistas na tv e no rádio, já
que cantar era a sua verdadeira obsessão, e não a fama.
O cerne desse documentário é trabalhar corretamente o andar
da carruagem, numa aliança entre a cantora, o ente e a música. O observar dela
e o testemunho dado, além de relevantes e enriquecedores para aquilo que se conhecia,
conclui-se com uma canção que todos esperavam e reforçam quão genial ela era e
que somos mais fãs de suas canções do que imaginamos. O diretor Paulo Henrique
Fontenelle não vê necessidade de encher os atos de depoimentos de variadas
pessoais, apesar do grande contingente de entrevistados. E pessoas de suma
importância foram colocadas nem tão no início, porém no momento certo e de
participação fundamental.
Além de tudo, o lado humano da cantora é apresentado com
muita força, que até menos que aquilo seria suficiente para afirmar que ela e
seu talento são bem maiores que qualquer defeito que todo ser humano tem. Situação
essa bem transposta no focalizar midiático à morte da cantora, que muitos jornalistas preferiram noticiar que tratou-se de uma overdose, quando o próprio Instituto
Médico Legal apontava um enfarto com a causa. Mas e se as drogas tivessem sido o motivo? Seria isso o que devia ter sido enaltecido naquele triste
momento? Como muito bem disse Zélia Duncan, no momento da morte de Elia Regina
foi dito que era mais uma pessoa que o mundo perdeu para a cocaína. “Isso é
coisa que se diga de Elis Regina no momento de sua morte?”, questionou
indignada a cantora. Tal fato pode ser perfeitamente encaixado no caso da rockeira.
Mas felizmente a vida de Cássia Eller tinha fatores bem mais
positivos para estarem sendo defendidos. O destaque maior era o desejo da
maternidade, que, para ela, homossexualidade nenhuma era impedimento e mostrou
para todos que o caráter é o mais importante na criação de um filho – fato esse
bem observado na exposição da mãe preocupada, carinhosa e que reconhecia o
papel de quem cuidava do Chicão e sabia ouvi-lo como a pessoa mais importante,
ao ponto de ter sido o único a convencê-la de cantar, sem gritar tanto. Francisco
Eller participou do filme, expondo orgulho pela mãe que teve, além da
fisionomia e trejeitos idênticos ao da genitora.
Num brilhante apanhado da briga pela guarda da criança, que ficou com
Maria Eugênia (sua então companheira no nascimento do garoto), respeitando
assim o seu desejo, o documentário Cássia Eller conclui-se com um tapa no
preconceito e valorizando os verdadeiros e inesquecíveis talentos da música
brasileira, mostrando que é impossível não deixar nossos olhos brilharem diante
de um produto da arte bem feito.
POR ENQUANTO
Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa
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