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quarta-feira, 6 de maio de 2015

CÁSSIA ELLER


CÁSSIA ELLER
DIREÇÃO: Paulo Henrique Fontenelle
ELENCO: Cássia Eller, Nando Reis e Zélia Duncan


Com depoimentos de familiares e amigos, como Nando Reis e Zélia Duncan, esse documentário narra a trajetória artística de Cássia Eller, expondo como surgiu esse fenômeno do rock nacional, que impressionou o país em efêmeros doze anos. A vida pessoal da artista também não ficou de fora nessa produção.


Bancar o radical não é o meu objetivo, mas confesso ser contra cinebiografias ou documentários (esse segundo em menor grau) sobre pessoas que ainda estejam em vida ou que sua morte ainda tenha sido recente. Visões pessoais sobre o indivíduo podem pesar na avaliação da obra. Nesse tipo de trabalho o Brasil é um verdadeiro mestre. Porém se tratando de Cássia Eller, vejo que tal homenagem veio de maneira 100% tardia.

Trabalhar a vida de Cássia Eller é prato cheio para quem gosta de se surpreender e levá-la as telonas faz qualquer um pensar que um resultado negativo seria improvável. Quem pensa assim, está coberto de razão. Muitos alcançam a glória, mas, no caso desta artista, quem poderia imaginar que alguém, numa performance monstruosa e impecável no mais alto grau do rock, teria começado a carreira em uma banda de forró e ao longo da fama fez com Alcione um ótimo dueto de Não Deixe o Samba Morrer, fora o fato de ter subido no trio elétrico de Margareth Menezes, em pleno Carnaval de Salvador, e ainda ter tocado pandeiro.

Cássia foi de um brilhantismo tremendo ao dar uma personalidade incrível na calmaria de canções compostas por ícones do rock nacional, como Renato Russo, Cazuza, Frejat e Dado Vilalobos; e ainda buscar o trabalho acústico como maneira de satisfação pessoal. Logo, não vinha ao caso os gostos pessoais, adentrar a territórios estranhos ao rock, como o último citado, o axé e o samba é enaltecer a arte que se respira, é a música que deve ser valorizada, já que era aquilo que a fascinava, como pode ser visto no documentário, que expõe claramente suas dificuldades em lidar com entrevistas na tv e no rádio, já que cantar era a sua verdadeira obsessão, e não a fama.

O cerne desse documentário é trabalhar corretamente o andar da carruagem, numa aliança entre a cantora, o ente e a música. O observar dela e o testemunho dado, além de relevantes e enriquecedores para aquilo que se conhecia, conclui-se com uma canção que todos esperavam e reforçam quão genial ela era e que somos mais fãs de suas canções do que imaginamos. O diretor Paulo Henrique Fontenelle não vê necessidade de encher os atos de depoimentos de variadas pessoais, apesar do grande contingente de entrevistados. E pessoas de suma importância foram colocadas nem tão no início, porém no momento certo e de participação fundamental.

Além de tudo, o lado humano da cantora é apresentado com muita força, que até menos que aquilo seria suficiente para afirmar que ela e seu talento são bem maiores que qualquer defeito que todo ser humano tem. Situação essa bem transposta no focalizar midiático à morte da cantora, que muitos jornalistas preferiram noticiar que tratou-se de uma overdose, quando o próprio Instituto Médico Legal apontava um enfarto com a causa. Mas e se as drogas tivessem sido o motivo? Seria isso o que devia ter sido enaltecido naquele triste momento? Como muito bem disse Zélia Duncan, no momento da morte de Elia Regina foi dito que era mais uma pessoa que o mundo perdeu para a cocaína. “Isso é coisa que se diga de Elis Regina no momento de sua morte?”, questionou indignada a cantora. Tal fato pode ser perfeitamente encaixado no caso da rockeira.

Mas felizmente a vida de Cássia Eller tinha fatores bem mais positivos para estarem sendo defendidos. O destaque maior era o desejo da maternidade, que, para ela, homossexualidade nenhuma era impedimento e mostrou para todos que o caráter é o mais importante na criação de um filho – fato esse bem observado na exposição da mãe preocupada, carinhosa e que reconhecia o papel de quem cuidava do Chicão e sabia ouvi-lo como a pessoa mais importante, ao ponto de ter sido o único a convencê-la de cantar, sem gritar tanto. Francisco Eller participou do filme, expondo orgulho pela mãe que teve, além da fisionomia e trejeitos idênticos ao da genitora.

Num brilhante apanhado da briga pela guarda da criança, que ficou com Maria Eugênia (sua então companheira no nascimento do garoto), respeitando assim o seu desejo, o documentário Cássia Eller conclui-se com um tapa no preconceito e valorizando os verdadeiros e inesquecíveis talentos da música brasileira, mostrando que é impossível não deixar nossos olhos brilharem diante de um produto da arte bem feito.


POR ENQUANTO

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa

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