Ads 468x60px

.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

CINQUENTA TONS MAIS ESCUROS



CINQUENTA TONS MAIS ESCUROS
DIREÇÃO: James Foley
ELENCO: Jamie Dornan, Dakota Johnson, Marcia Gay Harden e Kim Basinger


Christian Grey tenta trazer Anastasia de volta para a sua pra lá de diferente vida. O surpreendente é que dessa vez o contrato é outro, e ele tenta mostrar tons mais humanos em sua personalidade. Buscando reconstruir suas vidas, eles agora terão que lidar com elementos do passado e do presente, que são uma séria ameaça ao casal.


Sem querer parecer radical demais, mas poucos minutos são suficientes para que Cinquenta Tons Mais Escuros me faça ter uma senhora crise de risos. Parece muito aqueles programas humorísticos que cria personagem com um ciúme grandioso da mulher, mas tudo isso em meio a uma veia cômica, e não é tido como um problema sério, como o filme quer tratar. Se bem que aqui e acolá, a obra mostra-se uma proposital comédia stand-up, onde há um sério jogo com o público, querendo e conseguindo arrancar gargalhadas. Mas essa intenção do filme é mínima, comparado ao seu verdadeiro e maior objetivo, que é (em vão) ser levado a sério. Após as merecidas críticas recebidas pelo primeiro filme, a segunda versão cinematográfica da obra literária de E. L. James manteve seus produtores, inclusive o conceituado Michael De Lucca, mas trouxe um novo diretor: James Foley, daquele A Estranha Perfeita (lembram?); mesmo assim, um novo resultado desastroso foi simplesmente inevitável.

Os primeiros atos de Cinquenta Tons Mais Escuros tentam ensaiar uma Anastasia mais dona de si, com um meritocrático emprego em uma editora e impondo condições para manter o relacionamento com Christian Grey. Só que o decorrer da história a transforma em uma mulher contraditória, pois suas próprias iniciativas acabam incitando a “selvageria” por parte do cônjuge, criando uma fascinação dela por ideais sadomasoquistas e pelo clássico quarto vermelho, que a transformaram em uma cúmplice da louca obsessão do empresário mega-bilionário, ou seja, sua notável condição de vítima é cruelmente desmontada pela obra, que mesmo almejando desmistificar preconceitos, acaba por valorizando-os.

E se a primeira película nos assusta com Christian Grey, esta segunda o constrói de uma maneira bastante artificial, pois o juntar dos dois filmes está bem longe do suficiente para exibir sentimentalismo no jovem, já que cada um de seus atos, por mais benevolente (ou menos malevolente) que sejam, exibem um homem que vive para dominar uma mulher, tendo nela uma figura que mais parece um objeto. A frieza dele, aliada a fraca atuação de Jamie Dornan, é tão forte ao ponto de escancarar uma enorme indiferença ao sobreviver de um grave acidente de helicóptero, onde incrivelmente não houve sequer a necessidade dele ser hospitalizado. Além disso, Cinquenta Tons Mais Escuros nos deixa os seguintes questionamentos: Que falta de norte foi essa que o Grey sofreu ao se distanciar da Anastasia? Como comprovar isso? Quais elementos a garota (ainda tragicamente vivida por Dakota Johnson) exibe a ponto de ensinar o ricaço sobre o que é amor? Ele sabe o que é amor? O filme não transparece respostas, e toca sua narrativa na base do “é isso e pronto, e não somos obrigados a especificar nada”. E outra coisa: Um adolescente ser abusado sexualmente (conforme a lei) por uma mulher mais velha, jamais seria um trauma para Christian Grey. Desculpem a franqueza neste último ponto.

A obra ainda busca elaborar um teor de suspense em cima de três personagens: Leila é uma ex-submissa de Grey, que com tons psicóticos tenta ser uma ameaça a vida do casal, tratada e exibida como um fantasma vivo que veio do além, ao ponto de importuná-los e consegue desesperá-los com o simples ato de jogar tinta num dos carros do par; Jack é o chefe de Anastasia, que, como se não bastasse o protagonista, tem os mesmo perfil e instinto de Christian, enxergando nele um verdadeiro adversário, que pode (e consegue) arruinar sua vida e carreira; Elena (vivida pela Barbie humana Kim Basinger) é a mentora sexual de Grey, que atualmente sócia do magnata, não aprova seu “romance”, e com tons vilanescos tenta convencê-lo de desistir da jovem. A real é que de suspense, isso tem só a tentativa. São personagens que dão as caras no início de Cinquenta Tons Mais Escuros, desaparecem, e retornam quando a presença deles na película já não fazem mais sentido, e se caso não voltasse, não teria a mínima interferência no roteiro (apesar da bizarrices); e o  desfecho da trama tenta dar uma ideia de que os três terão um papel fundamental no próximo filme da franquia, mas agora me respondam: Como podemos esperar algo de relevante por parte deles, se nem o Christian Grey e a Anastasia parecem ser dois seres concebidos artisticamente por uma mente que tem noção das coisas?! Complicado!

Referindo-se a cenas de sexo, este filme aqui avaliado exibiu bem menos cenas picantes, mas faz-se justo admitir que Jamie Dornan e Dakota Johnson tiraram mais o pé do freio. Se bobear, esta última até permitiu que a mamãe Melanie Griffith observasse tudo. No mais, a franquia Cinquenta Tons de Cinza, mesmo tentando fugir, continua sendo machista, incoerente, e nestes tons mais escuros, bem mais artificial, ao ponto de se perder na concepção de um contexto que não gira somente em torno de Christian e Anne. Se for capaz de entregar filmes trágicos até o fim, fica o desejo que pelo menos o seu departamento musical seja condecorado, pois as músicas compostas para o mesmo e escutadas durante a projeção, dão para o gasto, ou pelo menos um percentual dele.


1 comentários:

Matheus Pannebecker disse...

A série "Cinquenta Tons..." parece mesmo não ter conserto, né? E a trilha é realmente uma delícia, mas completamente alheia ao filme, sem qualquer função narrativa... Realmente um produto para ser apreciado à parte!