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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

mãe!



MÃE!
DIREÇÃO: Darren Aronofsky
ELENCO: Javier Bardem, Jennifer Lawrence, Ed Harris e Michelle Pfeiffer
 

Um casal vive uma vida reclusa e aparentemente feliz, quando figuras misteriosas adentram ao local em que vivem, fazendo com que situações estranhas e assombrosas passem a rondar a vida dos anfitriões, nas quais é a mulher quem está mais propícia a viver um verdadeiro inferno astral.


Ninguém segura o diretor Darren Aronofsky. Existe alguém melhor que ele, quando, diante de um público, se atreve ao extremo no ato de provocar e brotar uma gigantesca complexidade na mente do ser, em todos os altos graus de intensidade, capazes de gerar uma baita taquicardia e perda de fôlego em quem assiste? Questiono isso, pois tais fatos aconteceram comigo.

Enquanto ele foi muito singelo com o excelente O Lutador, ele foi ultrapassando os limites do atrevimento com Requiem de um Sonho e a obra-prima Cisne Negro, mas em mãe!, ele (diferente deste último) leva o próprio roteiro para a tela, num eletrizante e incômodo suspense, que por si só impressiona, mas a reflexão proposta só engrandece o filme e a ousadia de seu idealizador.

Sem dar nomes aos personagens, o quebra-cabeça fica mais tenebroso quando o prólogo enaltece um clima sombrio na vida de um casal, onde a ausência já leva a uma desconfiança, que somada aos diversos closes nos atores, eleva o mistério que pode estar incutido seja nas papéis, seja no local (afastado, por sinal) onde a trama se passa.

Dividindo opiniões entre os que assistiram, o único consenso é do viés bíblico presente em mãe!, e fica notória a capacidade de dar um ar de suspense naquilo que é sagrado. Há de se concordar com quem diz que o casal é criador e criação, com esta última sendo retratada na figura da mulher, que ao estranhar visitas, cria uma falta de confiança em seu próprio companheiro, o que denota ideais agnósticos em um período longínquo, como pode ser visto na própria direção de arte que misturava modernidade com antiguidade. Voltando ao agnosticismo, vale ressaltar que estes são tão difundidos quanto as crenças, e que expõe o início de uma falta de comunicação entre os mesmos, que são surpreendidos por Ed Harris e Michelle Pfeiffer, que claramente são uma metáfora dos primeiros habitantes, ou seja, Adão e Eva. O primeiro surge, executa suas ações e de maneira posterior a uma cena em que é exibida uma ferida em sua costela, recebe a companhia da esposa, que acaba por ser a parte audaciosa do casal, buscando em próprios elementos da natureza (como em um fruto proibido) uma maneira de burlar as regras, ou seja, se impor diante da autoridade dos donos da casa.

A inimizade entre os filhos dos personagens de Harris e Pfeiffer segue a linha lógica de Caim e Abel, com direito a morte e falta de compaixão por alguns diretamente ligados a eles, com o luto se misturando a festa, o que configura o mau comportamento de muitos, que despertou a ira de Deus, que ia eliminando aquilo que não o agradava e punindo seus servos. Ligado a tal fato, a casa passou por um grande desaparecimento de objetos e seus moradores passando por castigos dentro de seu próprio lar.

O poeta, interpretado por Javier Bardem, tem sua fisionomia idolatrada por todos, e passa a ser a figura santificada, que serve de salvação para muitos, pois acreditam que nele está presente a intercessão necessária para conseguir qualquer coisa. Assim, para atender seus adoradores, ele se afasta da esposa, que sozinha, transforma-se em Maria, uma mulher que no lugar mais imaginavelmente afastado, acaba engravidando daquele que viria ser o Salvador, que morre diante de seu povo (cena forte essa), e, agora sim contrariando a sequência das escrituras sagradas, vê o mundo e todos os seus habitantes indo em direção a um purgatório apocalíptico, para que logo depois viesse o recomeço, ou seja, a reencarnação.

O que mais chama atenção em mãe! é o ritmo eletrizante com que as coisas vão acontecendo, englobando todo o drama, o suspense e até mesmo o pânico incutidos numa obra, que conta com uma atuação primorosa de Jennifer Lawrence, que é a imagem do medo e a assombração que podem serem vistos pelo espectador e constatados na maneira corajosa com que ela assume o caráter da mãe em conflito com os demais. Michelle Pfeiffer usa e abusa de seu lado femme fatale, ao criar um antagonismo impressionante e desafiador, mesmo com poucos minutos em cena.

Ousado ao extrair todas as virtudes de Darren Aronofsky, mãe! mostra que se pode alcançar diversas metáforas em contextos aparentemente invioláveis, com a coragem de quem a conduz e de quem ali está inserido, causando mais espanto e confusões mentais em que assiste, provando o poder que a arte possui.


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