MUDBOUND - LÁGRIMAS SOBRE O MISSISSIPI
DIREÇÃO: Dee Rees
ELENCO: Jason Mitchell, Garrett Hedlund, Carey Mulligan e Mary J. Blige
À beira do rio Mississipi,
duas famílias vivem suas vidas numa contemporaneidade pós-Segunda Guerra
Mundial, mas a relação entre ambas não é das melhores, devido as diferenças
raciais, onde um lado quer impor a qualquer custo a superioridade sobre o
outro.
Acabou o pé atrás com a
Netflix, que já estabilizada no gosto popular com suas séries, agora enxerga
suas próprias produções cinematográficas ganharem a compreensão e a
popularidade necessárias, diminuindo o mito de que a mesma é inimiga das salas
de cinemas. Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi já marca seu território como
uma obra impactante e inesquecível, que soube ser um diferencial no cinema que trata de questões raciais e expôs mais um grande talento feminino na direção. Fiquem, desde já,
de olho na carreira da cineasta Dee Rees.
É bom tomar cuidado para não se
enganarem com a obra, que de início chega a iludir com ares de romance,
investindo na carinha angelical da bela e talentosa atriz Carey Mulligan. Mas o
fato é que o filme tem responsabilidade com seus tema e objetivo, e expõe com
bastante força as adversidades na relação entre negros e brancos, com enfoque
na primeira metade do século XX, mostrando assim que mesmo nos mais distantes e
pacatos lugares, o racismo existe e com mais regularidade do que possamos
imaginar.
É fato que Mudbound – Lágrimas
sobre o Mississipi uma vez ou outra quer ensaiar, na mais pragmática visão, uma
tentativa de brancos darem valor aos negros, mas a obra tem a perspicácia de
executar a farsa que ronda essa iniciativa, já que um lado só sabe valorizar o
outro quando este lhe convém, mas sempre os brancos da beira do rio Mississipi
estarão munidos do discurso de que verdadeiros heróis são aqueles que têm fé, e
graças a ela são capazes de derrotar Adolph Hitler. Eles se referem a si próprios, é claro.
Diante disso, o enfrentamento
passa a ser inevitável e mostra que é totalmente nula a tentativa de haver
tolerância, e para os brancos que se acham (ou têm certeza) superiores, vale o triste ecoar do pensamento que diz que negro só serve para servir. Por outro lado, há
um espaço no filme para enaltecer quem valoriza e testemunha com sensatez a humanidade
na figura de cada um, e neste ponto faz-se justo apontar a amizade entre Jamie
(Garrett Hedlund) e Ronsel (Jason Mitchell) como a melhor coisa de um filme
recheado de qualidades. Pena que as premiações não encontraram espaço para
esses dois, que fizeram performances fantásticas. Restou uma indicação ao Oscar
para a eficiente Mary J. Blidge em Atriz Coadjuvante, além de nomeações em Roteiro
Adaptado, Canção e Fotografia – esta última fazendo história, pois quem assina
a mesma é Rachel Morrison, a primeira mulher a disputar o prêmio na categoria.
Voltando à amizade, ela traz
consigo a questão dos traumas da guerra entre os seres envolvidos, e um busca
no outro a força para superar os fantasmas do passado. O Jamie, enquanto
branco, era fundamental para mudar uma sociedade? Não, mas ele fez sua parte,
agindo com sua bela consciência, que por sinal, diante de dramas familiares,
não lhe impõe mandamentos que têm lá suas artificialidades. Sendo assim, ele não se
via e nem acha que alguém deva ser ver na obrigação de gostar de seu próprio
pai ou de evitar nutrir uma afetividade pela cunhada.
O desfecho de Mudbound –
Lágrimas sobre o Mississipi exibe uma ridícula (sem ônus para a qualidade da
obra) inquisição, onde a miscelânea de choque, revolta e tristeza expõe ao espectador
apenas um percentual da realidade de uma opressão que ainda existe, mas ao
mesmo tempo, o filme emociona ao propor que diante da tristeza, possamos dar as
mãos a parte correta da história e ao mesmo tempo segurar seus corações em nossas
mãos.
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