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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O ARTISTA DO DESASTRE


O ARTISTA DO DESASTRE
DIREÇÃO: James Franco
ELENCO: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Alison Brie, Zac Efron, Josh Hutcherson e Jackie Weaver


The Room é um filme a ser produzido em Hollywood, que mesmo com baixíssimo custo, se põe a revolucionar a arte e ser um marco, mas a recepção à qualidade do filme é trágica, o que leva apreensão à carreira de quem nele está envolvido. Mas aí a má qualidade da obra se propagou de maneira tão rápida, que o cinema passou a cultuar a mediocridade do filme.


Tommy Wiseau (interpretado por James Franco) é um ator e cineasta que de maneira inacreditável não se amedronta diante de desafios, mesmo quando os elementos ao redor dos mesmos os leva a fracassos constantes. Não à toa, o status de ícone da indústria, mesmo que de maneira inversa, foi conquistado por ele. O Artista do Desastre vem para mostrar tamanha trajetória dessa carreira incrível e bizarra.

O curioso é que antes do filme nos apresentar ao dito cujo, ele investe num prólogo onde multiplicam-se depoimentos de outrem a respeito dessa suposta tragédia em forma de ator e diretor, onde a cada declaração dada, a dúvida só aumenta: “Quem é esse ser?”. A exibição de um ensaio de uma peça teatral nos dá pistas de que o problema não esteja só nele, e como o filme claramente não tem a mínima intenção de ser levado muito sério, a cena fica escurecida e Tommy surge como um certo alguém com pose de fenômeno, um gigante, um salvador da pátria. O olhar de quem testemunha aquela criatura oscila entre um “nossa” e um “o que é isso?”. Assim, o roteiro escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber (a mesma dupla responsável por (500) Dias com Ela e A Culpa é das Estrelas) concebe o protagonista como uma inspiração metafórica para novos artistas, conseguindo desvincular a real possibilidade que o filme tinha de ser um grave insulto à vida e “obra” de Tommy.

Pelo enfoque à arte, O Artista do Desastre se insere com uma entrada triunfal da trama na cidade de Los Angeles, que é a Meca da arte, investindo no ar que fascina àqueles que querem fazer parte da indústria ou que são simplesmente apaixonados por ela. E trabalhando ainda mais no objetivo de rir de si próprio, o filme coloca figuras conhecidas interpretando elas mesmas, com direito a ironias e com coragem o suficiente para fazer o famoso produtor Judd Apatow, que é uma das figuras mais simpatizadas do cinema, posar como um sujeito estupidamente antipático, mas sem que isso leve a uma mancha a sua imagem. Claramente o objetivo dessa iniciativa do filme é construir em Tommy a consciência necessária de que seu parceiro profissional Greg (interpretado por Dave Franco, irmão de James) possui a lealdade suficiente para dar o sustento (por menor que seja) a esse sonho que é fazer um filme ter sucesso em Hollywood, sem a necessidade de correr atrás dos poderosos e bajula-los. Afinal, o filme tem sua trama e precisa fazê-la andar, mesmo que em meio a furos propositais. A amizade entre os co-protagonistas acaba por ser uma virtude que engradece a obra e os retratados, que lidam constantemente com pessoas que têm seus devidos graus de anormalidade e que propõem presepadas que mostram que até a arte de fazer filmes ruins não é para amadores.

E falando no Greg, que no filme é tão importante quanto o Tommy, ele acaba por ser o retrato fiel do deslumbre sem excessos, que muitos sonhadores têm ao querer adentrar à sétima arte, e isso se comprova em seu comportamento durante os testes, em meio as excessivas nudez dos sets e aos diálogos nos quais o Tommy estava inserido e que em muito me lembrou o Kirk - personagem de Robert Downey Jr em Trovão Tropical. E voltando o foco ao Tommy, há de se haver humildade suficiente para louvar a grandiosa atuação de James Franco no papel. Mesmo sendo um ator que se auto-ridiculariza, ele capta e expõe com ousadia e inovação as diversas características do personagem, como sua ilusão, prepotência, incompetência, ignorância, e tudo isso com uma força, uma presença e um humor que alça o protagonista ao destaque que, de fato, ele tem hoje na indústria. Franco, que também dirige o filme, estava bastante cotado a disputar o Oscar 2018 de Melhor Ator por esta obra, mas acabou preterido ao ver seu nome envolvido nos escândalos de abuso sexual em Hollywood. A indicação que antes seria uma bela ressuscitada em sua carreira, transformou-se em um esnobe que fará com que o foco sobre ele diminua (talvez nem tanto significamente), e assim ele enfrente as consequências com que terá que arcar daqui pra frente.

Polêmicas à parte, O Artista do Desastre acaba por ter um bom resultado ao trabalhar um outro filme que teve um resultado péssimo. Mas é incrível como a arte, inclusive quando mal trabalhada, acaba rendendo vitórias pessoais a muitos, que na verdade, como a obra exibe, estão longe de serem pessoas repugnantes, e que mesmo com seus naturais defeitos, só a ânsia em que querer serem relevantes no cinema, conseguiram tornar um filme ruim, muito belo aos olhos de quem vê.


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