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domingo, 22 de julho de 2018

ILHA DOS CACHORROS


ILHA DOS CACHORROS
DIREÇÃO: Wes Anderson
ELENCO: Bryan Cranston, Edward Norton, Greta Gerwig, Bill Murray, Jeff Goldblum, Frances McDormand e Scarlett Johansson 


Na cidade japonesa de Kobayashi, um cruel político aprova uma lei que diz que cachorros não podem mais conviver com humanos e devem ser enviados para uma ilha com péssimas condições de sobrevivência. Tal fato revolta a muitos, principalmente o jovem Atari. Ele decide recrutar amigos e inicia uma perigosa aventura, com intuito de devolver a todos, a convivência com o melhor amigo do homem.


Estamos a um pouco mais de cinco meses para o término de 2018, e o que prometia ser um confronto épico sobre qual será o melhor filme de animação do ano já aconteceu, num formato em que pode ser feito o tira-teima da melhor maneira possível, pois Os Incríveis 2 está em cartaz ao mesmo tempo em que estreia Ilha dos Cachorros, apesar do Brasil não ter comprado a ideia de um bom lançamento comercial deste último, que será avaliado nesta crítica. Dirigido pelo excêntrico e criativo diretor Wes Anderson (de O Grande Hotel Budapeste e Moonrise Kingdom), roteirizado por ele, ao lado de Roman Coppola, Jason Schwartzman e Kunichi Nomura, e impressionando pelo visual proposto pela técnica stop-motion, a obra marca a volta do cineasta às animações, após o sucesso de O Fantástico Senhor Raposo, que lhe rendeu uma de suas seis indicações ao Oscar.

É no mínimo interessante ver uma trama centrada em cachorros ser estrategicamente ambientada no continente asiático, que é uma região onde é típico o consumo da carne do animal. Mas como tal fato é mais comum na China, Ilha dos Cachorros adentra ao Japão, investindo em novos territórios, onde de acordo com a mente do autor, a vida não é fácil para os caninos. Seu prólogo nos dá uma ideia de algo dinástico num império onde os antepassados já tinham uma célebre relação com os cães, cabendo a cada um avaliar se era positiva ou negativa. Até podem ser notadas certas semelhanças do início do filme com a franquia Kung Fu Panda, mas garanto que não é algo preocupante, pois é fato que Wes Anderson é inteligente o suficiente para estruturar uma trama com grandiosos toques de originalidade, passando longe de cópias baratas e mal feitas.

A trilha sonora composta pelo talentosíssimo Alexandre Desplat é recheada de um sentimento de suspense, que enche o espectador de dúvidas sobre como será o desenrolar de Ilha dos Cachorros. A verdade é que os animais são retratados após a fatídica situação que os levou a segregação, como se fossem uma outra sociedade, e digo mais, bem parecidos com os marcianos que muitos terráqueos ainda sonham verem sendo descobertos. Numa inevitável disputa de demarcação de território, ao mesmo tempo eles buscam saber os motivos que levaram o homem a investir nessa exclusão, ao passo que também surgem as dúvidas sobre o que fizeram para tal. Diante disso, mesmo se tratando de um filme infantil, Ilha dos Cachorros mostra uma nova faceta em que Wes Anderson tem o dom de transformar seus produtos em metáfora, comprando também a briga pelas minorias, visto que a película não deixa de ser um retrato um tanto quanto fiel da maneira como muitos segmentos da sociedade mundial têm sido desprezados e apenas uma pequena parte luta pela reversão dessa situação.

Na eminência da perda dos dois bens mais preciosos de um ser humano (a vida e a liberdade), métodos radicais em prol dos mesmos, são trabalhados pela trama com uma gigantesca complexidade no que diz respeito ao embate com as noções disciplinares impostas pelo antagonismo de Ilha dos Cachorros. Aproveitando a contemporaneidade de uma sociedade cada vez mais sem empatia e sem amor ao próximo, lavagens cerebrais acabam por sobressaírem, em meio a mecanismos de tecnologia e de lutas corporais, que mais uma vez comprovam a criatividade de Wes Anderson, que usa de diversas características culturais do Japão para o melhor fazer valer a ideia de sua mais nova obra.

Minuciosamente, todas essas qualidades são bem perceptíveis em Ilha dos Cachorros, o que fomenta uma espécie de invencibilidade de seu autor em sua carreira. Agora para uma obra que, apesar de boa, não chega perto de ser excelente, o fator “balança” pesa (perdoem o trocadilho) em seu final, visto que no supracitado duelo, não há dificuldades em dizer que Os Incríveis 2 é a melhor animação até o presente momento, e ao final de 2018, dificilmente poderá ser colocado este filme aqui avaliado como um dos melhores do ano – fato um tanto quanto inédito para Wes Anderson, que num mandamento que diz que quem está no auge, deve buscar se manter nesse patamar, vê alguns degraus abaixo das obras-primas do ano lhe dando boas vindas. Pelo menos há a consciência de que no futuro, os degraus mais altos sempre estarão de portas abertas para ele.  


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