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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O PRIMEIRO HOMEM


O PRIMEIRO HOMEM
DIREÇÃO: Damien Chazelle
ELENCO: Ryan Gosling, Clarie Foy, Kyle Chandler e Corey Stoll


Neil Armstrong é um jovem astronauta americano que irá viver uma grandiosa jornada, que é a primeira missão humana de desbravar o solo lunar. Em meio a sacrifícios e muito dinheiro investido, seja por parte do próprio cidadão e/ou do governo americano, acima de tudo há o temor de que algo possa dar errado e a morte seja o preço a ser pago por isso.


Apenas quatro anos foram suficientes para Damien Chazelle nos brindar com Whiplash – Em Busca da Perfeição, La La Land – Cantando Estações e este aqui avaliado O Primeiro Homem, o que só denota a intenção desse que é o mais jovem vencedor do Oscar de Melhor Diretor (venceu aos 32 anos, em 2017) de provar com poucos casos sua grandiosa versatilidade e a capacidade de buscar diferenciais naquilo que desconfiamos ser mais do mesmo, fazendo de três longas-metragens seguidos, verdadeiras obras-primas, que transformam o seu nome um sinônimo de primor.

O instinto do espectador já traz consigo um mandamento antes mesmo de O Primeiro Homem anuncia-lo: “Segure o fôlego”. A sequência de fortes cortes de seu primeiro voo pode ser equiparada, lógico que em menor grau, a um sujeito que vai fazer sua primeira viagem de avião, que percebe aquele veículo gigantesco ganhar os ares e pensa na adrenalina que é estar nas alturas. A diferença é que Armstrong estava no espaço.

Esta obra sabe muito bem que o astronauta é mais do que uma viagem à lua, ele é bem além disso. Não à toa, Damien Chazelle, aliado ao roteiro escrito por Josh Singer (Vencedor do Oscar por Spotlight – Segredo Revelados), não tem a mínima pena do público ao impor uma abordagem ao drama familiar vivido por Armstrong, que foi a perda da filha ainda criança, vítima de um câncer no cérebro, que por si só já é suficiente para qualquer um se questionar se vale a pena seguir em frente. Em uma postura desafiadora, sujeita a julgamentos por parte do espectador e dos próprios personagens do filme, o diretor não oculta a disposição de Neil em retornar imediatamente ao trabalho – fato no mínimo chocante. Porém, a construção da trama é humana o suficiente ao transpor que na concretização do maior pesadelo da vida de um pai, diversos fatores devem ser considerados válidos para tentar amenizar uma situação terrível, que não foi capaz nem de gerar uma alegria absoluta em meio a uma excelente notícia. Vide a reação de Armstrong e sua esposa, quando o mesmo recebe a notícia de sua aceitação no programa da NASA de fazer uma viagem à lua.

Ao som de uma linda trilha sonora composta por Justin Hurwitz (vencedor de 2 Oscar com o supracitado La La Land – Cantando Estações), que engloba drama, aventura e sonhos realizados, O Primeiro Homem escancara um Neil Armstrong de forte personalidade, facilmente incomodado, mas com um enorme senso de justiça. Não foram poucas as cenas que mostravam o seu fascínio pela lua. Mas entre ele e o satélite natural tinha a NASA, que poucas vezes no cinema foi tão retratada de maneira tão questionável, entre defesas e críticas, mas que acima de tudo tinha uma amostra bem racional, afinal ela é sim poderosa, mas na hora de problemas técnicos, até um simples canivete suíço pode resolvê-los.

Com cenas de decolagens de naves espaciais que esbanjavam realidade, Damien Chazelle mantém seu investimento num Armstrong humano e capaz de sentir um enorme regozijo (mistura de felicidade com alívio) ao notar a proximidade com sua tão admirada lua, enquanto seus chefes estavam mais preocupados em impor uma superioridade espacial dos Estados Unidos em cima da União Soviética. O passar do tempo fez de Neil um sujeito mais bem-humorado, apesar das perdas e da queda na popularidade da NASA, que já estava tendo questionados os imensos recursos públicos jogados fora com operações mal sucedidas – o que respingava no astronauta, que não se sentia atingido, visto que sabia que seu maior gesto heroico para o mundo estava por vir.

Chegado o momento do pequeno passo para um homem e uma gigantesco salto para a humanidade, a dramaticidade volta à tona. O casal Neil e Janet (interpretados com a precisão, eficácia e complexidade necessárias por parte de Ryan Gosling e Clarie Foy, que podem ser indicados ao Oscar 2019, com mais merecimentos para ela), mesmo com a ciência de que ninguém sabe o dia de amanhã, tinham em mente que isso valia ainda mais para eles no momento da despedida, que engrandece os tons emotivos da obra no “até logo” dado aos seus dois filhos. O pessimismo havia, mas a jornada era fascinante. O realismo extremo das cenas é arrepiante, e se o deslumbre da chegada à lua já brota um enorme sentimento no espectador, então imaginem no cidadão que tinha a incumbência de ser o primeiro a pisar em tal solo. O pouso foi tão sinistro, que O Primeiro Homem até parece ser um filme de ficção, em meio às imagens que estavam cada vez mais impactantes.

Justo ao conceder a cinebiografia digna que Neil Armstrong realmente merecia, Damien Chazelle soube arquitetar em O Primeiro Homem as explorações necessárias da vida do astronauta, diante de uma faceta mal propagada por conta de sua reclusão; por meio de diversos pontos, onde nem todos eram positivos, mas construindo uma conclusão onde, mesmo com teorias da conspiração, o protagonista era sim um autêntico herói americano, que como muito bem foi dito, deslumbrava uma vida que nenhuma de suas viagens podia descrever.  



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