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domingo, 4 de novembro de 2018

BOHEMIAN RHAPSODY


BOHEMIAN RHAPSODY
DIREÇÃO: Bryan Singer e Dexter Fletcher
ELENCO: Rami Malek, Aidan Gillen e Mike Meyers


Dono de diversos estereótipos, Freddie Mercury foi um cantor que quebrou paradigmas e conseguiu se firmar como um dos maiores artistas do planeta. O filme conta a trajetória do astro, da juventude até os seus últimos momentos de vida, além das glórias e dos dramas que a fama mundial lhe trouxe.


Um simples resumo na Wikipédia (sim, na Wikipédia) diz o seguinte: “Freddie Mercury, nome artístico de Farrokh Bulsara, foi um cantor, pianista e compositor britânico que ficou mundialmente famoso como fundador e vocalista da banda de rock Queen, que ele integrou de 1970 até o ano de sua morte”. Uma pessoa de grande peso para a história da indústria fonográfica, e que há tempo o cinema se perguntava quando sua biografia seria levada às telonas. Um trabalho nada fácil, assim como o de fazer qualquer outro filme, mas para Bohemian Rhapsody, os percalços não foram nada econômicos.

Sacha Baron Cohen (intérprete do Borat) foi o primeiro escalado a interpretar o cantor, mas desistiu do projeto por achar o filme comportado demais. As gravações já tinham sido iniciadas, quando Bryan Singer foi demitido da direção, devido a diversos conflitos, que geraram até agressões físicas, inclusive contra o novo protagonista Rami Malek. Isso são só dois exemplos sobre um filme que sempre me perguntei se iria dar certo, e o que se observava é que a produção chegou num momento em que pensou: “começamos, então vamos terminar”. Boas expectativas de minha parte não existiam, mas eu sou apenas um diante de uma legião de milhões de fãs de Freddie Mercury, que esperavam uma linda apoteose cinematográfica.

Concluído sob a direção de Dexter Fletcher, e roteirizado por Anthony McCarten e Peter Morgan (dois especialistas em cinebiografias, com indicações ao Oscar), Bohemian Rhapsody não demora a se propor como uma obra convencional, onde seu prólogo é uma viagem pelas caras do Reino Unido da década de 1980: o próprio Freddie, as ruas de Londres, o lendário estádio de Wembley, o Príncipe Charles e a Princesa Diana. Ciente das curiosidades presentes na mente de um espectador, o filme sabe que os bastidores são tão surreais quanto a vida pública do músico, e a maneira como técnicos de som lhe enxergavam com profunda admiração, mostrava que o lado de trás do palco era o seu verdadeiro altar.

Fiel, até certo ponto, a uma ordem cronológica, Bohemian Rhapsody lembra a determinação de Freddie pelo sucesso e o coloca como um mais novo membro dos artistas que “chegaram lá” por estarem no lugar certo e na hora certa, mas ao mesmo tempo indicando que o líder do Queen nunca perdeu a persistência, e tinha personalidade suficiente para enfrentar imposições familiares que cultivavam dogmas providos de Zanzibar (sua terra-natal) e não se intimidava em cada projeto que adentrava, capaz de ser um membro super exigente, mesmo tendo sido o último a adentrar à sua banda. 


Para uma Inglaterra que vivia sob o comando conservador da dama de ferro Margareth Thatcher, Freddie era uma mais forte exceção à regra, onde sua extravagância era o seu jeito de impactar, tornando o seu grupo uma trupe de desajustados que não encaixavam e fizeram um grande sucesso no mundo inteiro, principalmente porque ali não existia nada igual. Nem toda banda era o Queen, e a autoconfiança de Freddie foi fundamental para isso.

Sem deixar de ecoar a influência dos Estados Unidos como fator determinante no sucesso de um artista, mesmo que Freddie, assim como Elton John, David Bowie e os Beatles, fossem(são) ingleses muitos patriotas, Bohemian Rhapsody trata uma turnê nos Estados Unidos como o ápice da carreira do Queen, tanto que o filme, em toda a sua duração, cita mais cidades americanas do que inglesas. Interpretem como quiserem, assim como Freddie recomendou aos fãs que queriam saber o que significava a letra da canção que dá nome ao filme.

Na parte emotiva da obra, faz-se justo admitir o quão Bohemian Rhapsody foi benéfico para a imagem de Mary Austin, a esposa de Freddie Mercury, que é uma mulher que até divide opiniões e muitos apontam que nem a família do cantor se dá bem com ela. Homenageada pelo músico com a música “Love of my Life” (que teve até a sua histórica interpretação no Rock In Rio 1985 retratada pelo filme), a inglesa de origem humilde se mostra uma verdadeira guerreira, que conhecia Freddie de um jeito que ninguém conhecia, e não o abandonou, mesmo o filme o propagando como um mau marido, e ainda por cima adúltero. A confiança dela nele foi determinante para que as coisas dessem certo, mesmo quando tudo conspirava contra.

Mas mesmo com uma forte biografia, há de se convir que o filme é mediano e por oras decepcionante. Não confundam a força de uma história com a maneira que um audiovisual a estrutura. Bem econômico no jeito de focalizar determinados momentos, até mesmo porque alterou realidades e tinha um princípio de ser um filme bem comportado e respeitoso com as famílias (o que é um absurdo, por sinal), Bohemian Rhapsody fez com que as coisas acontecessem rápidas demais, como a bissexualidade de Freddie, o surgimento das canções, seu maior envolvimento com álcool e drogas, a descoberta da AIDS, as traições sofridas e seu retorno ao convívio familiar – tais fatos são um retrato do que o filme estava disposto a ser, até chegar em seus vinte minutos finais. Foi aí que pretensiosamente, a obra se volta ao espetáculo Live AID (um marco na história britânica) e todo o drama que quase tirou o Queen do show, para na hora, o filme, com direito a uma arrepiante passagem aérea sobre um público de mais de 100 mil pessoas concebidas de maneira digital, monta de maneira forte e emocionante a íntegra da apresentação de Freddie Mercury, onde o público (inclusive eu, não nego) acaba tendo a mesma reação que Mary Austin teve, após o "We Are The Champions".

É uma pena que Bohemian Rhapsody só tenha tido o seu ápice no final, quando o resto do filmes foi puramente convencional, sem sentimentos, apesar da impressionante atuação de Rami Malek (cotado ao Oscar 2019 por este filme). Agora já foi! Freddie Mercury já tem o filme de sua vida, condenado a um esquecimento rápido, mas uma coisa é fato: mesmo que fosse uma obra-prima, ainda assim seria menor que o cantor, que consegue ser gigante diante de qualquer homenagem que outrem quer lhe prestar.


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