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domingo, 27 de janeiro de 2019

A FAVORITA



A FAVORITA
DIREÇÃO: Yorgos Lanthimos
ELENCO: Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone e Nicolas Hoult


A Rainha Anne da Inglaterra passa por problemas de saúde e confia à amiga Lady Sarah o governo de sua nação. Com o agravamento da crise, uma nova serva chamada Abigail aproveita as brechas abertas para ganhar a confiança da realeza, e pôr em prática suas maiores ambições.


A primeira década do século XXI já estava se findando, quando, no Festival de Cannes, chamou a atenção um filme grego chamado Dente Canino, que, meses depois, conquistou uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Hollywood estava ali sendo apresentada ao talento do grande cineasta Yorgos Lanthimos, que adentrando de vez à Meca do cinema, dando verdadeiros shows de ousadia, com filmes como O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Este ano, eis o seu maior desafio: um assunto clássico, amado por todos, mas recheado de polêmicas, que dão o tom diferencial que ele adora..

A Favorita não se desprende do fato de que a realeza britânica, independente de geração, encanta a tudo e a todos, seja pelos palácios, o vestuário, e, claro, pela ideia de poder. Responsável por aquecer o turismo e até a economia do Reino Unido, a monarquia inglesa não dá nem sinais de que possa ser derrubada. E como suas peculiaridades são sempre um show à parte, seu envolvimento com animais, sejam patos ou coelhos, dão novas ideias para quem adora copiar Elizabeth II e seus ascendentes e descendentes.

A obra, roteirizada por Deborah Davis e Tony McNamara, molda-se na concepção de uma monarca (Olivia Colman) em fazer valer seu espírito autoritário, principalmente se tratando da então nação mais poderosa do mundo, mas, como em toda chefia, tem que ter o braço direito da mandante (Rachel Weisz), que, em certas ocasiões, posa de mais dura, para não interferir na empatia da rainha para/com os seus súditos. E falando neles, logo se nota que no tratamento não há pudor, seja jogando alguém na lama, fazendo-o dormir em locais impróprios, além de castigos severos. Aí que entra Emma Stone na história, que mesmo na representação de um personagem real, acaba por ser um retrato daqueles submissos, que deixam a revolta tomar conta si e vivem de maneira gananciosa, para que sua vitória futura seja um trunfo diante da crueldade.

É a partir daí que A Favorita chega ao ponto ápice em que sua trama passa a ser um emaranhado dos segredos da realeza, inclusive no que tange a sexualidade, migrando para uma história de ciúmes, em que as principais envolvidas usam e abusam da conquista para demarcar o seu território, pois num universo de outros membros da família real, além dos lordes que comandam o parlamento, estar na elite sem sangue azul é uma conquista respeitável, mas nem sempre é alcançada das melhores formas.

Acontece que, se o poder fascina a todos, A Favorita é um filme executado em um contexto que prova que, mesmo que muitos não concordem, há sim pontos negativos, e o reinado da Rainha Anne pode ser claramente caracterizado como aquele que aconteceu no momento errado, diante de polêmicas, sofrimentos, crises institucionais e a própria condição de deficiente que ela vivia. Mas curiosamente não interferia nas piores características das três personagens principais, o que só aumenta os tons antagonistas presentes nas mesmas. Logo, o filme não é prato cheio para quem busca papéis admiráveis.

Ao mesmo tempo em que incrementa todos os fatos nos quais a Inglaterra de séculos passados se viu envolvida, A Favorita deixa muitas dúvidas históricas no ar, que, para 10 indicações ao Oscar 2019, não brotou tantas discussões o quanto Bohemian Rhapsody se meteu. A verdade é que, no geral, bem diferente do que Yorgos Lanthimos é acostumado a fazer, o filme, mesmo que seja bom, é bem irregular, pois a trama, apesar de interessante, peca absurdamente em seu ritmo, o que não me faz entender como que a mesma vai disputar o maior prêmio do cinema na categoria Melhor Montagem, pois a divisão de atos parecia dar uma fragmentação desnecessária à trama, que poderia tranquilamente ter seguido uma linha temporal sem trazer prejuízos. No mais, o destaque de fato é o elenco que tem a melhor atuação de Rachel Weisz, desde O Jardineiro Fiel, e o brilhantismo de Olivia Colma e Emma Stone, que conseguiram se engrandecer diante das adversidades da rainha e da serva – dois típicos membros de inúmeros outros filmes, que garanto, com uma dor no coração, serem melhores que A Favorita.     


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