A
FAVORITA
DIREÇÃO:
Yorgos Lanthimos
ELENCO:
Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone e Nicolas Hoult
A Rainha Anne da Inglaterra
passa por problemas de saúde e confia à amiga Lady Sarah o governo de sua
nação. Com o agravamento da crise, uma nova serva chamada Abigail aproveita as
brechas abertas para ganhar a confiança da realeza, e pôr em prática suas
maiores ambições.
A primeira década do século
XXI já estava se findando, quando, no Festival de Cannes, chamou a atenção um
filme grego chamado Dente Canino, que, meses depois, conquistou uma merecida
indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Hollywood estava ali sendo
apresentada ao talento do grande cineasta Yorgos Lanthimos, que adentrando de
vez à Meca do cinema, dando verdadeiros shows de ousadia, com filmes como O
Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Este ano, eis o seu maior desafio: um
assunto clássico, amado por todos, mas recheado de polêmicas, que dão o tom diferencial que ele adora..
A Favorita não se desprende do
fato de que a realeza britânica, independente de geração, encanta a tudo e a
todos, seja pelos palácios, o vestuário, e, claro, pela ideia de poder. Responsável
por aquecer o turismo e até a economia do Reino Unido, a monarquia inglesa não
dá nem sinais de que possa ser derrubada. E como suas peculiaridades são sempre
um show à parte, seu envolvimento com animais, sejam patos ou coelhos, dão
novas ideias para quem adora copiar Elizabeth II e seus ascendentes e
descendentes.
A obra, roteirizada por
Deborah Davis e Tony McNamara, molda-se na concepção de uma monarca (Olivia
Colman) em fazer valer seu espírito autoritário, principalmente se tratando da
então nação mais poderosa do mundo, mas, como em toda chefia, tem que ter o braço direito
da mandante (Rachel Weisz), que, em certas ocasiões, posa de mais dura, para não
interferir na empatia da rainha para/com os seus súditos. E falando neles, logo
se nota que no tratamento não há pudor, seja jogando alguém na lama, fazendo-o
dormir em locais impróprios, além de castigos severos. Aí que entra Emma Stone
na história, que mesmo na representação de um personagem real, acaba por ser um
retrato daqueles submissos, que deixam a revolta tomar conta si e vivem de maneira gananciosa,
para que sua vitória futura seja um trunfo diante da crueldade.
É a partir daí que A Favorita
chega ao ponto ápice em que sua trama passa a ser um emaranhado dos segredos da
realeza, inclusive no que tange a sexualidade, migrando para uma história de
ciúmes, em que as principais envolvidas usam e abusam da conquista para
demarcar o seu território, pois num universo de outros membros da família real,
além dos lordes que comandam o parlamento, estar na elite sem sangue azul é uma
conquista respeitável, mas nem sempre é alcançada das melhores formas.
Acontece que, se o poder
fascina a todos, A Favorita é um filme executado em um contexto que prova que,
mesmo que muitos não concordem, há sim pontos negativos, e o reinado da Rainha
Anne pode ser claramente caracterizado como aquele que aconteceu no momento
errado, diante de polêmicas, sofrimentos, crises institucionais e a própria
condição de deficiente que ela vivia. Mas curiosamente não interferia nas
piores características das três personagens principais, o que só aumenta os
tons antagonistas presentes nas mesmas. Logo, o filme não é prato cheio para
quem busca papéis admiráveis.
Ao mesmo tempo em que
incrementa todos os fatos nos quais a Inglaterra de séculos passados se viu
envolvida, A Favorita deixa muitas dúvidas históricas no ar, que, para 10
indicações ao Oscar 2019, não brotou tantas discussões o quanto Bohemian
Rhapsody se meteu. A verdade é que, no geral, bem diferente do que Yorgos
Lanthimos é acostumado a fazer, o filme, mesmo que seja bom, é bem irregular,
pois a trama, apesar de interessante, peca absurdamente em seu ritmo, o que não
me faz entender como que a mesma vai disputar o maior prêmio do cinema na
categoria Melhor Montagem, pois a divisão de atos parecia dar uma fragmentação
desnecessária à trama, que poderia tranquilamente ter seguido uma linha
temporal sem trazer prejuízos. No mais, o destaque de fato é o elenco que tem a
melhor atuação de Rachel Weisz, desde O Jardineiro Fiel, e o brilhantismo de
Olivia Colma e Emma Stone, que conseguiram se engrandecer diante das
adversidades da rainha e da serva – dois típicos membros de inúmeros outros
filmes, que garanto, com uma dor no coração, serem melhores que A Favorita.
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