GREEN
BOOK – O GUIA
DIREÇÃO:
Peter Farrelly
ELENCO:
Viggo Mortensen, Mahershala Ali e Linda Cardellini
Tony é um americano de
descendência italiana que aceita o emprego de motorista do famoso pianista Don
Shirley, mesmo tendo um pé atrás com o cargo. Pelo fato do músico ser negro e
estarem na década de 1960, eles devem seguir um guia pelas estradas americanas
sobre quais são os mais seguros lugares para afrodescendentes. Tal jornada é
uma renovação na vida de cada, que passam a ver a realidade de uma maneira
diferente.
Após um 2018 de infinitos
aplausos, eis que o início da temporada de premiações para Green Book – O Guia
foi um tanto quanto turbulento, quando fatos envolvendo o diretor Peter
Farrelly e o co-roteirista Nick Vallelonga geraram e ainda geram um clima
turbulento em torno do longa. O responsável pela direção viu voltar à tona a acusação de que, no final da
década de 1990, ele teria mostrado o pênis para Cameron Diaz no set de Quem Vai
Ficar com Mary?. Ele não nega a história, mas diz que fazia isso com todos os
profissionais do filme e em tom de brincadeira. Mesmo assim, o cineasta emitiu
uma nota pedindo desculpas. “Era um idiota. Fiz isso há décadas e achava que
estava sendo engraçado, mas a verdade é que estou constrangido e isso
envergonha-me atualmente. Eu sinto muitíssimo”.
Quanto
a Vallelonga, foi recuperado um tweet antigo de sua autoria. No conteúdo da
mensagem está um apoio ao Presidente dos Estados Unidos Donald Trump e a defesa
de que os muçulmanos sejam banidos do país. Vale ressaltar que Mahershala Ali,
uma das estrelas da obra, tem essa origem. Mesmo com tais situações,
Green
Book – O Guia, venceu 3 Globos de Ouro, foi o Melhor Filme para o Sindicato dos
Produtores, mas Farrelly foi esnobado no Oscar de Melhor Direção, e, mesmo com 5
indicações, está respirando por aparelhos no sonho de conquistar o maior prêmio
do cinema mundial.
Mas é fato que a obra também é
arte, e vou me ater a ela a partir de agora, enfatizando que ela faz uma bela passagem por um
tempo áureo na Terra de Tio Sam, com todos aqueles bares e restaurante dotados do que havia de melhor na música ao vivo, e que despertavam em todos, independente
de índole, o desejo de estar lá. Para quem já estava, só restava o regozijo do
orgulho, inclusive num simples garçom, que ecoava sua alegria de viver, e,
mesmo desconhecendo o real caráter de seu patrão, fazia absolutamente tudo por
ele.
Mesmo repudiando vorazmente as
supracitadas atitudes do diretor Peter Farrelly, acredito que, por Green Book –
O Guia, ela mereça aplausos pela maneira dócil e leve com que investiu em um estilo diferente e que traz bem-estar e reflexão para o espectador. Digo isso porque
em sua carreira imperam filmes, como Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros,
Eu, Eu Mesmo & Irene, O Amor é Cego e o deplorável Para Maiores. Percebem a
diferença? Investindo em uma cintilante química entre Viggo Mortensen e
Mahershala Ali, a sincera amizade transforma-se num cerne para o filme, graças à
construção de um companheirismo imediato, reforçado pelo aumento do grau de
intimidade nos conselhos, além da diversão nas “”DRs” nada profissionais, que
só reforçam o merecimento das louvações que os dois atores têm recebido, desde
que o filme fora lançado.
Embasado historicamente por um roteiro que contou com a colaboração de Brian Hayes Currie, questões que não
cessam, como o racismo e a homofobia, recebem diferentes, mas todos reprováveis
retratos, que passam a moldar ainda mais a dupla que lidera o filme, pois,
na visão do espectador, a relação patrão/empregado transformada em amizade
real, passa a ser de pai e filho, pois é notável a total imaturidade do
pianista, que entrou nessa vida, acreditando que certos pressupostos que
prejudicavam e prejudicam negros e gays não fossem tão reais, por isso caso não
tivesse um braço direito mais ciente da realidade, talvez ele não teria a apoteose
artística que conquistara. No final das contas, Tony e Don são dois campeões.
Acontece que, mesmo sendo
belo, Green Book – O Guia não me despertou o senso de que se trata de uma
obra-prima, e, mesmo concordando com alguns detratores, prefiro me deslocar da comparação que muitos outros críticos
estão fazendo com Conduzindo Miss Daisy. A verdade é que neste fator
comparativo, eu prefiro lembrar de Diários de Motocicletas, do brasileiro Walter Salles, que em meio a uma história
de viagem pela América do Sul inteira, conseguiu construir subtramas fortes o
suficiente para tornarem-se tão importantes quanto o deslocamento que teve
início na Argentina. O que faltou neste filme aqui avaliado foi um tempero a
mais em cada parada desse ato de cruzar os Estados Unidos, para que cada ato
fosse especial o suficiente para fazer da obra mais impactante do que tinha condições
que ser. Mas reitero que Farrelly fez um trabalho digno no campo artístico, e
vamos deixar que o tempo, a arte, a indústria ou até mesmo a justiça lhe deem o
seu julgamento.




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