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sábado, 2 de fevereiro de 2019

GREEN BOOK – O GUIA



GREEN BOOK – O GUIA
DIREÇÃO: Peter Farrelly
ELENCO: Viggo Mortensen, Mahershala Ali e Linda Cardellini


Tony é um americano de descendência italiana que aceita o emprego de motorista do famoso pianista Don Shirley, mesmo tendo um pé atrás com o cargo. Pelo fato do músico ser negro e estarem na década de 1960, eles devem seguir um guia pelas estradas americanas sobre quais são os mais seguros lugares para afrodescendentes. Tal jornada é uma renovação na vida de cada, que passam a ver a realidade de uma maneira diferente.


Após um 2018 de infinitos aplausos, eis que o início da temporada de premiações para Green Book – O Guia foi um tanto quanto turbulento, quando fatos envolvendo o diretor Peter Farrelly e o co-roteirista Nick Vallelonga geraram e ainda geram um clima turbulento em torno do longa. O responsável pela direção viu voltar à tona a acusação de que, no final da década de 1990, ele teria mostrado o pênis para Cameron Diaz no set de Quem Vai Ficar com Mary?. Ele não nega a história, mas diz que fazia isso com todos os profissionais do filme e em tom de brincadeira. Mesmo assim, o cineasta emitiu uma nota pedindo desculpas. “Era um idiota. Fiz isso há décadas e achava que estava sendo engraçado, mas a verdade é que estou constrangido e isso envergonha-me atualmente. Eu sinto muitíssimo”. 

Quanto a Vallelonga, foi recuperado um tweet antigo de sua autoria. No conteúdo da mensagem está um apoio ao Presidente dos Estados Unidos Donald Trump e a defesa de que os muçulmanos sejam banidos do país. Vale ressaltar que Mahershala Ali, uma das estrelas da obra, tem essa origem. Mesmo com tais situações, Green Book – O Guia, venceu 3 Globos de Ouro, foi o Melhor Filme para o Sindicato dos Produtores, mas Farrelly foi esnobado no Oscar de Melhor Direção, e, mesmo com 5 indicações, está respirando por aparelhos no sonho de conquistar o maior prêmio do cinema mundial.

Mas é fato que a obra também é arte, e vou me ater a ela a partir de agora, enfatizando que ela faz uma bela passagem por um tempo áureo na Terra de Tio Sam, com todos aqueles bares e restaurante dotados do que havia de melhor na música ao vivo, e que despertavam em todos, independente de índole, o desejo de estar lá. Para quem já estava, só restava o regozijo do orgulho, inclusive num simples garçom, que ecoava sua alegria de viver, e, mesmo desconhecendo o real caráter de seu patrão, fazia absolutamente tudo por ele.

Mesmo repudiando vorazmente as supracitadas atitudes do diretor Peter Farrelly, acredito que, por Green Book – O Guia, ela mereça aplausos pela maneira dócil e leve com que investiu em um estilo diferente e que traz bem-estar e reflexão para o espectador. Digo isso porque em sua carreira imperam filmes, como Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros, Eu, Eu Mesmo & Irene, O Amor é Cego e o deplorável Para Maiores. Percebem a diferença? Investindo em uma cintilante química entre Viggo Mortensen e Mahershala Ali, a sincera amizade transforma-se num cerne para o filme, graças à construção de um companheirismo imediato, reforçado pelo aumento do grau de intimidade nos conselhos, além da diversão nas “”DRs” nada profissionais, que só reforçam o merecimento das louvações que os dois atores têm recebido, desde que o filme fora lançado.

Embasado historicamente por um roteiro que contou com a colaboração de Brian Hayes Currie, questões que não cessam, como o racismo e a homofobia, recebem diferentes, mas todos reprováveis retratos, que passam a moldar ainda mais a dupla que lidera o filme, pois, na visão do espectador, a relação patrão/empregado transformada em amizade real, passa a ser de pai e filho, pois é notável a total imaturidade do pianista, que entrou nessa vida, acreditando que certos pressupostos que prejudicavam e prejudicam negros e gays não fossem tão reais, por isso caso não tivesse um braço direito mais ciente da realidade, talvez ele não teria a apoteose artística que conquistara. No final das contas, Tony e Don são dois campeões.

Acontece que, mesmo sendo belo, Green Book – O Guia não me despertou o senso de que se trata de uma obra-prima, e, mesmo concordando com alguns detratores, prefiro me deslocar da comparação que muitos outros críticos estão fazendo com Conduzindo Miss Daisy. A verdade é que neste fator comparativo, eu prefiro lembrar de Diários de Motocicletas, do brasileiro Walter Salles, que em meio a uma história de viagem pela América do Sul inteira, conseguiu construir subtramas fortes o suficiente para tornarem-se tão importantes quanto o deslocamento que teve início na Argentina. O que faltou neste filme aqui avaliado foi um tempero a mais em cada parada desse ato de cruzar os Estados Unidos, para que cada ato fosse especial o suficiente para fazer da obra mais impactante do que tinha condições que ser. Mas reitero que Farrelly fez um trabalho digno no campo artístico, e vamos deixar que o tempo, a arte, a indústria ou até mesmo a justiça lhe deem o seu julgamento.


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