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terça-feira, 12 de novembro de 2019

PARASITA


PARASITA
DIREÇÃO: Bong Joo-Ho
ELENCO: Kang-Ho Song, Sun-Kyun Lee e Yeo-Jeong Jo


Um família sul-coreana formada por uma casal e dois filhos adultos está desempregada e com muitas dificuldades financeiras. Ao terem contato com uma família elitizada, eles passam a almejar aquela situação econômica e não medirão esforços para ascenderem na vida, mas algo inesperado os aguarda.


Qualquer pessoa sensata sabe que o dicionário não é o pai dos burros, e sim dos inteligentes, pois são esses quem sempre recorrem a ele para não errar. O mesmo deixa bem claro: parasita, biologicamente falando, é o organismo que vive de ou noutro ser vivo, de quem obtém alimento e a quem causa dano. A força desse significado entrega diversos conceitos que podem serem absorvidos por quem quer trabalhar um tema afim, mas, no mínimo chama a atenção, quando alguém usufrui de tudo e transforma numa obra cinematográfica que faz todo o sentido, apesar de estar longe de ser uma aula de ciências. O cineasta Bong Joo-Ho, que nos entregou Memórias de um Assassino, O Hospedeiro, Expresso do Amanhã e Okja, é hoje a mais fundamental das peças que têm garantido, nos últimos anos, uma linda e merecida visibilidade ao cinema da Coreia do Sul. Não à toa, com Parasita, ele conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e vem com força total para o Oscar 2020.

O WiFi não é live e a comida precária se mistura a insetos. Metade da população mundial vive com uma renda per capita abaixo do ideal, e não surpreende que tal fato atinja o continente asiático, que tem dois dos três países mais ricos do mundo, mas ainda vive assombrado com o drama da desigualdade social, que, por sinal, mescla povos, mas deixa os que estão em cima incapazes de verem e se apiedarem dos menosprezados. Na vida adulta, tão enfatizada em Parasita, os delírios são tão incontroláveis, que, apesar de aprendermos a não colocar a mão no fogo por outrem, podemos descobrir que nós é quem somos capazes de cometer os piores atos.

Mas o que é o ser humano? Será que só nossa extinção resolve os problemas do mundo? Talvez! Nós somos continuamente orientados a sermos sempre nós mesmos... mas o que é ser "nós mesmos"? Você sabe quem você é e sabe ser você mesmo? A cada ato, seja da vida ou do filme, assusta o ponto em que chegamos, e não adianta dar a sua confiança a qualquer um, pois não são coisas quaisquer o que estão sendo arquitetadas. Parasita, ao mesmo tempo que adentra a sua própria trama de maneira profunda, mira o espectador, que, curiosamente, em meio a falta de benevolência, não se indigna, não torce contra e almeja ser mais surpreendido, deixando constatar assim o quanto somos repletos de defeitos que nos orgulham - fato que se torna mais assustador com a trilha sonora do filme, assinada por Jaeil Jung, que nos remete às famosas sinfonias do período das trevas.

De fato, há um risco de muitos acharem o roteiro de Parasita, escrito por Bong Joo-Ho e Han Jin Won, muito exagerado, mas de fato não é. Hoje multiplicam-se histórias de pessoas que descobrem que convivem há meses com estranhos dentro de sua própria casa. Mesmo quando não se percebe, qualquer um pode tomar conta de nós, e a obra até tenta construir-se em meio ao otimismo que muitos, apesar dos pesares, ainda têm, mas ela é consciente de que não devemos nos questionar se há viva fora do Planeta Terra, pois, na verdade, o que pode haver é um outro mundo dentro deste.

Metaforicamente realista, Parasita enfatiza que quão ingênuo é nos acharmos donos de uma peculiaridade. Para o bem e/ou para o mal, tem muita gente melhor naquilo que julgamos sermos imbatíveis. Assim, os passos já estão mais que bem dados para que todos adentrem a um labirinto rodeado de paranoias e criminalidade, e sim, no final da contas, sempre pagamos por nossos pecados, pois os enganados são ótimos atores, e assim, segurando a lanterna dos afogados, percebemos que parar o carro para trocar o pneu ou voltar a estaca zero, jamais serão dois fatores necessários, e sim dois belos pesadelos. 

Arrancando merecidos aplausos por onde passa e colecionando prêmios, Parasita, além do seu elenco impecável, tem na direção de Bong Joo-Ho um esbanjar do talento de um homem que pegou uma premissa simples e boba, e, com bastante precisão, mostrou uma miscelânea de controle e ousadia, que engrandeceu essa forte história, onde o eletrizante frenesi, recheado de adrenalina, além de nos deixar em um eterno sinal de alerta, por conta dos perigos da vida, também escancara que não há tempo algum para ficarmos nos lamentando. A vida continua...


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