ROSA E MOMO
DIREÇÃO: Edoardo Ponti
ELENCO: Sophia Loren, Ibrahima Gueye e Abril Zamora
Madame Rosa é uma mulher idosa que sobreviveu ao Holocausto, e ao ser assaltada por um garoto, mesmo revoltada, decide abrigá-lo em sua casa, visto que tem uma espécie de creche em sua residência. Sua aposta de que seria uma relação conflitante, acaba se revelando uma linda história de companheirismo.
Longe de mim querer impor qualquer tipo de regra para qualquer que seja o segmento, muito menos o cinema. O processo de criação artística deve ser livre, mas é fato que, nos últimos anos, questões sociais tenham movimentado a sétima arte e destacam-se como carro chefe de uma contemporaneidade de produções internacionais e até mesmo hollywoodianas. O fato é que, nesse quesito, a Europa mostra-se bem menos investidora do que os demais continentes, mas como nunca é tarde para começar, o velho continente, mais habituado ao ápice da ficção, ao fator histórico e à promoção de suas belezas turísticas, prova que também tem um outro lado que deve ser mostrado, que não deixa de ser um combate ao viralatismo daqueles que pensam que aquilo que não é perfeito, só está presente em sua residência.
Rosa e Momo é um filme italiano dirigido por Edoardo Ponti, filho dos vencedores do Oscar Carlos Ponti e Sophia Loren - esta retorna à atuação após mais de uma década. O longa exibe em seu prólogo um fator que vai nortear toda a trama, mas o seu roteiro, escrito pelo diretor, em parceria com Ugo Chiti e Fabio Natale, não se dá ao luxo de investir numa linha de raciocínio lógica e trata, antes de exibir suas consequências, de escancarar uma mensagem de esperança e reinício, mesmo que haja uma ciência de que não se pode mudar nada, mesmo quando se quer mudar tudo.
Trabalhar o tema da criminalidade na infância é algo delicado, devido a duas vertentes opostas. Enquanto um lado prega que desvios fazem parte da juventude, e que, por pior que seja, têm recuperação; outros já apontam a situação como caso perdido e a imediata punição é a única solução possível. Em Rosa e Momo, Ponti é claramente um sujeito esperançoso e que tem a estranha mania de ter fé na vida. Para uma arte que já pregou que os brutos também amam, ele guia seu filme para um mundo em que o sujeito, por mais defeitos que tenha, também é capaz de criar sentimentos, e, por incrível que pareça e mesmo que muitos não acreditem, processos não tão glamurosos podem resultar numa salvação, mesmo em meio a entraves.
O filme, doce e impactante ao mesmo tempo, trabalha bem clichês e, de uma maneira natural, a esperada empatia, que não é vencida pelo cansaço, transborda em cena, mesmo recheada de características atípicas, como preocupações, estranhamentos e indignações. A proteção de uma mulher mais velha com uma criança acabou se fortalecendo na perspicácia de que a realidade criminosa do garoto em si, veio de uma extrema desigualdade e da falta de oportunidades. Generalizar não é saudável, mas. em suma, dizer que tudo é uma questão de escolha, é um exagero sem tamanho.
Para o bem e/ou para o mal, Conti sabe que tudo na vida são ciclos, e sem a mínima possibilidade de que alguém aja de maneira contrária, a natureza é quem sabe o que é melhor para todos. Em tons melancólicos, misturados às humanas e espetaculares atuações de Sophia Loren e Ibrahima Gueye, o companheirismo consagra-se vencedor. É fato que o diretor não quis passar nenhuma regra de vivência, mas em meio a desesperança, é nítida sua mensagem de que vale a pena viver e lutar sem ser radical. Pelo menos, ele tentou. Sua mãe, em seu discurso ao ganhar um Oscar, dedicou o prêmio a ele e ao seu irmão, afirmando que ambos lhe ensinaram a conjugar o verbo amar. Não que alguém tenha duvidado dela, mas assistindo Rosa e Momo, fica claro que Edoardo Ponti tem sim a capacidade de ensinar o que há de melhor na vida.




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