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sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

A FESTA DE FORMATURA

 


A FESTA DE FORMATURA
DIREÇÃO: Ryan Murphy
ELENCO: Meryl Streep, Nicole Kidman, James Corden, Kerry Washington, Keegan Michael-Key, Andrew Rannells, Jo Ellen Pellman e Ariana Debose


Emma é uma adolescente que cursa o último ano do ensino médio e sonha com a sua tão aguardada formatura. Porém, a festa é cancelada pelo fato dela ser lésbica e almejar levar sua namorada ao evento. Revoltada, ela denuncia a atitude nas redes sociais e acaba chamando a atenção de atores de Broadway, que se dirigem à sua cidade, com o intuito de reverter a situação.


Escritor e jornalista, Ryan Murphy é hoje um dos mais poderosos produtores de Hollywood, porém ressalta-se que grande parte do seu poderio, deve-se a televisão. Ele é simplesmente responsável pelas séries Glee, Nip/Tuck, American Horror Story e Feud. No cinema, ele, mesmo respeitável, ainda engatinha, tendo tido notoriedade apenas com os filmes Comer, Rezar, Amar e The Normal Heart. Em 2020, Murphy assinou um contrato com a Netflix, para a produção de conteúdos originais para a plataforma de streaming. O estrelado A Festa de Formatura, baseado em um musical da Broadway, é a sua grande aposta, porém foi algo precipitado, capaz de fugir de seus objetos centrais.

O que podemos chamar de cartão de más vindas já se encontra na primeira cena, quando A Festa de Formatura comete um erro grave ao exigir que o público já tenha noção do que se trata a história, ao invés de apresentá-la em minúcias. Com uma montagem falha, que tão esquisita e grotescamente alternou a centralização da trama de Nova York para o estado de Indiana, o filme constrói uma artificialidade em cima da recepção crítica a peças teatrais e embarca num desserviço à comunidade LGBT, no tocante que os "apoiadores da causa", nada mais são do que interesseiros, que, na verdade, carregam a bandeira do egocentrismo.

Existem musicais totalmente cantados e outros que inserem canções em atos. A Festa de Formatura não sabe a qual dessas duas características pertencer, sendo que sequer tem estrutura para isso, e foi montado de uma maneira em que as músicas aqui acontecem em excesso, tal qual Evita e Os Miseráveis, e acolá vivem um hiato, onde até o gênero do filme chega a ser esquecido. Logo, ele tem muito o que aprender com Moulin Rouge - Amor em Vermelho e Chicago - este último até foi citado, só que em sua versão teatral, onde, ironicamente, Nicole Kidman mostra-se mais digna e capaz do que qualquer intérprete da Roxie Hart, sendo que os cinéfilos lembram que no filme de 2002, tal personagem foi vivida por Renée Zellweger, que disputou o Oscar de Melhor Atriz com boas chances de sagrar-se vencedora, mas perdeu o prêmio justamente para Nicole Kidman, que era sim a merecedora da estatueta. Enfim, foi como um 2x0 indireto para a atriz australiana.

Constrangedor e exagerado, além de acontecer rápido demais para mais de 2 horas de duração, A Festa de Formatura posa de ativista, mas não levanta a bandeira de combate à homofobia. Pelo contrário! O filme até posa de homofóbico em legitimar até a heteronormatividade, ao ponto de fazer chacota com um homem, pelo fato dele ser fã da Broadway. Centrado em duas adolescentes lésbicas, o longa passa longe da raiz da questão e tem em seu protagonismo um casal sem a mínima química, incapaz de causar qualquer tipo de empatia perante o público - fato que só dá munição àqueles que repudiam o trabalhar desse tema na arte. A verdade é que não houve nenhuma discussão profunda sobre o drama que abate a Emma, como se conviver com o preconceito e a discriminação fosse simples. Chamar o contexto de A Festa de Formatura de ponta do iceberg ainda não é o suficiente perante a força que o filme teria, se ele adentrasse a questão, como de fato e de direito ela é.

Não censurando-se a investir no elenco, Ryan Murphy derrapa ao conceder um destaque absurdo à Meryl Streep, que está terrivelmente exagerada, impossibilitando a trama de trabalhar melhor o talento de Nicole Kidman e de Kerry Washington, que foram notavelmente mal utilizadas. A mesma falta de valor se aplica a Keegan Michael-Key, que é um humorista que merece ser mais conhecido no mundo, mas nesta oportunidade de fazer algo diferente de seu habitual, é ofuscado. Além disso, ainda fiquei com uma dúvida: O que Andrew Rannells estava fazendo ali?

Irresponsável e debochado não só com a causa, mas como até com outras obras artísticas, principalmente teatrais, A Festa de Formatura é uma aposta de fim de ano da Netflix, que não só poderia passar incólume neste derradeiro momento de 2020, mas como deveria também manter desconhecido este musical da Broadway, ao passo que a curiosidade do público mundial vai muito além dessa trama.


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