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domingo, 10 de janeiro de 2021

PIECES OF A WOMAN

 


PIECES OF A WOMAN
DIREÇÃO: Kornel Mundruczo
ELENCO: Vanessa Kirby, Shia LaBeouf e Ellen Burstyn


Uma mãe jovem passa por um delicado trabalho de parto, onde sua filha morre poucas horas após nascer. Diante desse drama, ela busca uma outra forma de viver, para amenizar a perda e driblar certos conflitos com o marido e a sua mãe. Porém, as chances de seu mundo cair não cessam dia após dia.


Kornel Mundruczo é um diretor húngaro, com poucos trabalhos na carreira e que praticamente só agora deu o ar da graça em Hollywood. Em Pieces of a Woman, da Netflix, ele reúne uma jovem celebrada por uma das principais séries da atualidade, uma lendária atriz, e um problemático, mas famoso ator. Não deixam de ser bons atrativos para uma trama concebida por dramas que ecoam verdades inconvenientes.

Antes mesmo dos créditos iniciais apresentarem ao espectador o nome do filme, Pieces of a Woman não se dá ao luxo de exibir uma grande introdução e escancara logo o que almeja: casal jovem, trabalhador e que sonha com o nascimento de sua herdeira. O foco ao turbulento trabalho de parto é construído sem explicações fundamentadas, porém o clímax do ato assume a responsabilidade pelo ritmo do longa e, mesmo sem tanto desenvolvimento, escancara uma grandiosa angústia, pois fica bem claro que algo está errado.

Aí sim tem início a verdadeira mulher em pedaços, que passa a viver a tão temida maior dor do universo. Em meio a obrigação tão deprimente que é a de deixar a vida continuar, Pieces of a Woman começa a questionar como que se recomeça, pois a virada ao avesso que a vida dá não está necessariamente presente só na perda do filho. Mas como esse é o ponto central do filme, Mundruczo também locomove o longa pelas diversas fraquezas existente. Destaque aos perfeitos e devastadores olhares da protagonista Vanessa Kirby para meninas pequenas. Desejar aquilo para outras mães ela não deseja, mas ao mesmo tempo ela se perguntava: Por que comigo? É nesse ponto que muitos espectadores se veem representados. Naturalmente, cria-se a necessidade de culpar alguém e vê-lo sendo punido é um acalanto.   

O multiplicar de problemas transforma-se em uma bola de neve, e todos os tipos de afetividade ficam prejudicadas. O adultério antes não imaginado, tornou-se uma realidade surgida de uma forma tão simples, que o próprio casal não se deu conta. E na relação com a mãe, ganham força os questionamentos sobre o que é, de fato, o correto: seriam os filhos eternamente obrigados a seguirem apenas o que a genitora diz e abrir mão de sua personalidade e daquilo que acredita? A força nas interpretações de Vanessa Kirby, Shia LaBeouf e Ellen Burstyn humanizam a situação e perpassam por nuances que não exageram e que dão veracidade a tudo que é trabalhado pelo filme. 

Mirando, literalmente falando, em uma ponte que está em obras em um pleno período de inverno com todos os seus tons melancólicos, Pieces of a Woman equipara os seus pontos, e sem querer desmerecer tudo o que já havia pregado, se rende a uma dura realidade que é a que, mesmo diante da indignação, prega que não há compensações para a morte e que nem todo julgamento é capaz de dizer concretamente a quem pertence a culpa. Certos finais podem não ser felizes, mas tiram fardos das costas. E a ponte concluída no filme foi também o fim dos desnecessários papéis aos quais nos prestamos durante a extrema dor.

Pieces of a Woman é daqueles dramas que tem uma essência muito parecida com a de filmes das 3 últimas décadas do século XX. Com doses de nostalgia artisticamente falando, ele surpreende por mostrar-se positivo em meio a uma contemporaneidade, onde atuais longas do gênero assim não se portam. Ele tem um objetivo e cumpre, e diante de um eficaz time de atores, não deixa de propor reflexões, como a que certas lutas exigem uma excelente saúde mental e emocional para serem encaradas.


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