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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

ON THE ROCKS



ON THE ROCKS
DIREÇÃO: Sofia Coppola
ELENCO: Rashida Jones, Bill Murray e Marlon Wayans


Laura é uma jovem casada, com duas filhas crianças, que há muito tempo não vê o seu pai, que é um idoso metido a playboy. Dispostos a se reencontrarem, eles fazem dessa nova relação algo bastante intenso, onde novas buscas vão guiar os seus caminhos pelas ruas de Nova York.


Para muitos, a paternidade e a maternidade são dois sentimentos de posse sobre outrem, onde jamais o cordão umbilical será cortado. A vida adulta também pode ser uma época de libertação, porém, automaticamente, o ser já se vê preso a uma nova realidade e a inúmeras responsabilidades, onde todos são inclusive obrigados a abrir mão da empatia para se esquivar de certos obstáculos inconvenientes. Elementos afins dessas situações dão um certo tom a On The Rocks, novo filme da diretora Sofia Coppola; mas engana-se quem acha que ela se arriscou a construir um dramalhão, repleto de radicalidades, que possivelmente o seu pai Francis Ford Coppola, de O Poderoso Chefão e Apocalipse Now, daria à obra. Incrivelmente o dito tom da trama é de leveza e serenidade, que engrandeceu a produção e deu um divertido ritmo a ela, tirando da cineasta, mesmo que momentaneamente, a alcunha de expert em tédio.

Com um casal jovem no protagonismo, Sofia não se intimida de fazer dos dois, seres que vivem um casamento qualquer, mas o prólogo de On The Rocks tem o poder de deixar claro que este não é o objetivo central da obra. Natural, sem ser manjado ou clichê, o filme ratifica as falhas como algo da natureza humana, mas enaltece a pacificidade como peça fundamental para a melhor resolução dos fatos, porém, ciente de que pode estar sendo trabalhado o desenvolvimento de um longa como outro qualquer, a trama constrói atos onde a suspeita das coisas que mais tememos, podem gerar situações cômicas, garantindo diversão aos personagens e ao público, onde, no final das contas, o melhor é deixar os problemas para lá e perceber que o melhor da vida também pode estar num simples bate-papo no almoço ou no jantar, junto àqueles que tanto amamos.

É fato que ninguém é imune a determinados problemas, mas ninguém pode ser ingênuo o suficiente a achar que eles atingem somente uma pessoa na face da Terra. É por isso que Sofia Coppola, em meio a vidas desmoronando, multiplica personagens que vivem situações idênticas e interliga os atos. Acontece que curiosamente, estas são pessoas podem chegar e dizer: "Sei bem o que é isso", "Te entendo perfeitamente"; mas isso também não quer dizer que eles são sujeitos que têm paciência para discutir com os outros, problemas que eles têm em comum. Seria On The Rocks um filme maldoso? Não, ele é um filme humanamente racional.

Sem infantilidades, nem artificialidades, o longa tem uma trama bem verdadeira e necessária, mas que muitos querem acreditar que seja utópica. Boas relações também desgastam, assim como amar demais também cansa. Com jornadas inesperadas, On The Rocks é uma obra de reflexão. No final das contas, podemos fazer tal qual Cássia Eller disse na canção "Por Enquanto": "Agora tanto faz, estamos indo de volta pra casa", porém de uma maneira cômica, rindo para não chorar. 

Com uma química extraordinária entre Rashida Jones e Bill Murray, além do deleite que é ver Marlon Wayans distante das imorais comédias pastelão produzidas por seus irmãos, On The Rocks é uma nova redenção para Sofia Coppola. Em 2004, ela ganhou o Oscar de Melhor Roteiro por Encontros e Desencontros, e posteriormente entregou o pavoroso Maria Antonieta, que ganhou inúmeras vaias no Festival de Cannes, em 2006. Na última década, ela dividiu a crítica com Um Lugar Qualquer, Bling Ring - A Gangue de Nova York e O Estranho que nós Amamos, mas neste 2020, impacta e com força total, mostrando uma inteligência sem a necessidade de excessos, digna de fazer com que ninguém ouse a duvidar da capacidade de sua família.


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