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terça-feira, 30 de março de 2021

WOLFWALKERS

 


WOLFWALKERS
DIREÇÃO: Tomm Moore e Ross Stewart
ELENCO: Sean Bean, Simon McBurney e Maria Doyle Kennedy


Em um vilarejo europeu, os lobos são tratados como figuras demoníacas, tal qual a natureza, que, para muitos, de benevolente não tem nada. Robin é uma garotinha que sonha em ser caçadora e tem consigo a consciência de que os animais são antagonistas, porém, ao conhecer uma menina nativa selvagem, ela muda conceitos e passa a defender os chamados wolfwalkers.


Uma primeira vista em Wolfwalkers traz como fator de maior impacto, uma fauna e uma flora que, inevitavelmente, nos remete às animações dos tempos áureos dos estúdios Disney. Acontece que a obra aqui avaliada não pertence à toda poderosa da sétima arte, nem a Hollywood, tampouco aos Estados Unidos. Em 2010, quando O Segredo dos Kells surpreendeu o mundo ao ser indicado ao Oscar de Melhor Animação, toda a cinefilia percebeu a urgência em se valorizar a produção irlandesa, que corajosamente busca destoar dos filmes da sua vizinha Inglaterra. Anos depois, A Canção do Oceano desbravou a Meca da arte e estabeleceu, para quem sabe enaltecer todos os tipos de arte, que o país é bem mais que o U2 e feliz daquele que reverencia o cineasta Tomm Moore.

O prólogo sombrio e com cenas fortes que envolvem os ritos e magias do folclore europeu não tem a intenção de fazer de Wolfwalkers um filme pesado o suficiente para que seja prestigiado por crianças. Pelo contrário, tal situação busca apenas afirmar, na prática, que o longa tem capacidade de ser uma salada de contextos, bem concebidos de acordo com cada um de seus atos. Valorizando o que há de tradicional no gênero animado e na cultura irlandesa, a trama assume um caráter que passeia pela fábula fantasiosa e absorve elementos que moldam uma criança, despindo-se da equivocada iniciativa de transformá-las em seres maduros, mas dando asas às ideias do poder do heroísmo infantil, tão presente nos sonhos não pontualmente utópicos de cada garoto ou garota.

Nesse ritmo, Wolfwalkers expõe o quanto a doçura e a união juvenil tem plena capacidade de sobressair-se às questões que separam os adultos. O filme, capaz de escancarar um plot twist leve, mas bem usado, faz com que o ambiente da Irlanda de séculos passados, se carregue com passagens adoráveis. Mas acontece que nem só do que há de mais belo vive a trama, e ciente disso, a equipe de roteiristas, formada pelos diretores, em parceria com Will Collins e Jericca Cleland, soube pontuar em cada situação, qual a verdadeira periculosidade do espaço que cerca tanto a sociedade humana, quanto os lobos.

Munido da ideia de uma longa e fascinante jornada, Wolfwalkers, comparado a tantos exemplos que seguem esses mesmos parâmetros, consegue manter seu eficaz ritmo sem apelar para clichês. Com uma pitada de emoção, diante dos contextos existentes por trás da vida nativa e selvagem do vilarejo, o filme consegue surpreender, ao passo que, crente na não irrecuperação de cada pessoa, expõe personagens com um correto senso de justiça, capazes de identificarem concretamente quem de fato é o vilão. E já que no final tudo dá certo, a proposições de reflexões sobre a vida foi o melhor ato de fechar com chave de ouro um dos melhores filmes do ano.

Wolfwalkers nos dá a lição de que, mais do que nunca, numa arte que cada vez mais insere e abraça a diversidade em todos os seus tipos, vale a pena sair de sua toca e contemplar a produção internacional, que tem total capacidade de bater de frente e inclusive superar Hollywood, provando que o multiculturalismo consegue atingir uma totalidade global, que sacramenta o talento existente em cada ponto do planeta, e que nos relembra que nem tudo falado em inglês vem dos Estados Unidos.   



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