101 Dálmatas é uma
daquelas animações clássicas da Disney, que quando alguém a assiste em sua
infância, a considera maravilhosa. Porém, quando a revê na fase adulta, admite
que o filme não é lá essas coisas, mas ainda mantém um enorme carinho por ele.
Unanimidade mesmo só Cruella Cruel, que é o destaque maior, seja na película
cinematográfica ou na série de desenhos da década de 1990, que no Brasil pôde
ser vista no Disney Club (ou TV Cruj, como preferirem). Uma
exibição sua na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres, em 2012,
mostra que ela não é um personagem qualquer. Nesse boom de filmes solos para
vilões, a Disney, enquanto toda poderosa, não ia ficar de fora dessa. A escolha
não foi equivocada.
No tocante que em muitas
coisas da vida, diz-se que uma postura não é questão de escolha e já se nasce
assim, Cruella, com suas mechas de cabelo, mostra-se como uma vilã de berço,
onde toda tentativa em ser agradável e educada é totalmente em vão. O que chama
a atenção neste filme dirigido por Craig Gillespie (de Eu, Tonya e A
Garota Ideal) é que não é nenhum exagero a concepção da personagem como um
verdadeiro ícone feminista para Inglaterra, tal qual Maria Bonita para o Brasil
e Aileen Wuornos para os Estados Unidos, e tudo isso por conta de suas
artimanhas. Assim, temos mais uma vilã que, ao invés de ser odiada, é
idolatrada, ao ponto de ganhar até a compaixão do público, por ser diretamente
responsável por uma tragédia, onde, por uma ironia proposital, dálmatas estão
ligados.
Mas que ninguém tire um fato
da cabeça: Cruella é uma antagonista! Ela é uma criminosa! Então o filme não se
esquece de que tem que ser construído em cima da maldade, até chegar na
elegância e na fineza dos vestuários, que são marcas tão registradas, quanto a
sua malevolência. Apesar de momentos arrastados e clichês mal usados, o longa,
seguindo a tradição de filmes infantis ingleses, que adoram crianças de rua,
orfãs e perdidas, mostra que felizes acidentes mudam o rumo de toda uma vida.
Ratifica-se que é impossível
assistir ao filme sem se lembrar de O Diabo Veste Prada. Cruella seria
tranquilamente um remake deste, que não feriria o original e onde ninguém é
cópia de Miranda Priestly. O longa sabe se recriar em cima do passado da
personagem-título, autenticando que ela só tem valor, quando age como ela
mesma, e não custa lembrar que ela de boazinha não tem nada. Divertidamente
revolucionária, ela não poderia ter sido interpretada por ninguém melhor que
Emma Stone, que ainda teve a sorte de estar ao lado da tão estupenda Emma
Thompson. O que se enxerga é um grande duelo entre as duas em diversos
segmentos. Muitos podem achar que a segunda quis se sobrepor à vilã que
inspirou o filme, mas que atriz jovem como a Stone não ia amar a Thompson como
um verdadeiro furacão bem na sua frente?
Mesmo perdendo força em sua segunda metade, Cruella merece um voto de confiança, pela boa aposta no resgaste desse personagem, um prólogo que misturou originalidade e tradição, sabendo captar os elementos que fazem live actions e filmes sobre vilões caírem nas graças do público. Tal fato é um suspiro de alívio para elenco e técnica, que reconhecem que podem chegar a um ápice ou se manter nele, mesmo quando o contexto infantil, que muitos cismam em ter preconceito, não se desvincula da trama - fato que aumenta a autoconfiança da Disney em não estar investindo somente em animações.
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